terça-feira, 9 de outubro de 2012

Santana de Parnaíba

O que fazer em pleno sábado a noite com duas crianças trancadas num chalé de menos de 40 m² quando a temperatura lá fora despencou e as chances de enxergar algo além do seu nariz são mínimas?
Enfie as crianças no carro e saia sem destino, é claro!
Foi isso o que fizemos numa noite como a descrita acima antes que os dois hiperativos impacientes se pendurassem no lustre.
Já em "deslocamento" levantamos as possibilidades das redondezas e tivemos a grata surpresa de acabar em Santana de Parnaíba (pelo caminho mais comprido, pois a ideia era fazer com que as crianças dormissem, o que não funcionou...).
Santana, para quem não conhecia, como eu, faz parte da região metropolitana de São Paulo, na microrregião de Osasco. Para quem sai pela Castello Branco, fica à direita, atrás dos Alphavilles e Tamborés.
É antiquíssima e com uma história muito interessante: em 1580, Suzana Dias, neta do cacique Tibiriçá, juntamente com seu filho, Capitão André Fernandes, funda uma fazenda à beira do rio Anhembi (atual rio Tietê), a oeste de São Paulo, próximo a cachoeira denominada pelos indígenas de "Parnaíba" (lugar de muitas ilhas).
Devido a sua posição estratégica no vale do rio Tietê, torna-se ponto de partida das bandeiras que seguiam rumo ao Oeste Paulista e ao Mato Grosso e em 1625 o povoado é elevado à condição de vila, com a correspondente criação do município. Com o fim das bandeiras o local entrou em declínio, ficando fora das rotas comerciais do próximo século. Em 1901 a construção da Usina Edgard de Sousa não foi suficiente para revitalizar a região que só volta a ficar valorizada com a construção de Alphaville na década de 80.
Seu centro histórico é tombado e bem conservado. Por ali é possível achar restaurantes, lojinhas, ateliers e na pracinha da igreja do século XIX o coreto dá o charme extra do lugar.
Fomos ao Bartolomeu, que serve porções, fondues e outras especialidades e ai no centro histórico mesmo é possível achar caminhando outras opções.
Quem estiver por lá de dia pode aproveitar e passar na Duo Patisserie, de propriedade de duas queridas amigas, e sair de lá com água na boca com tantas delícias!
No fim das contas saímos para acalmar os ânimos das crias e acabamos fazendo uma incursão na São Paulo antiga que muitos de nós sequer lembra que existe.

Ganhamos o dia!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

De novos e velhos horizontes...


Enquanto vivemos a entressafra de aventuras, vou migrando para cá aos poucos as viagens mais antigas documentadas e postadas em outras paragens.

Por outro lado, começamos a planejar os próximos rumos.

Pra este ano ainda, em algum feliz feriado de primavera, iremos em nova expedição para a Serra da Canastra.

Para o começo do próximo ano, Flórida, de  preferência sem outros furacões que não os que levaremos conosco daqui de casa.

É tempo de planejar!


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Longe se vai... mas perto também!

Mal regressados à rotina, este fim-de-semana sentimos necessidade de caçar novamente um canto com ar puro e um pouco de mato a uma distância razoável pra quem acabou de completar 5.000 km de estrada.
Fomos a um velho conhecido nosso que compartilho aqui para os que não conhecem.
O Sítio Japiapé fica localizado num raro remanescente de Mata Atlântica, a Serra do Japi, no interior de São Paulo, entre Jundiaí, Cajamar, Cabreúva e Pirapora do Bom Jesus.
Além de um restaurante delicioso de comida caseira servida no forno a lenha, ainda tem trilhas pra caminhada, trilha pra moto infantil, cross country para bicicletas, além de ser o ponto de encontro de muitos trilheiros de moto paulistanos e paulistas que tiram as botas e enchem a barriga por lá!
O parquinho, agora revitalizado, tem pula-pula, piscina de bolinha, tanque de areia, monitoras fazendo pinturas, balanços, gangorras e o supra-sumo: uma pista de trilha bem suave pra motinhos e triciclos elétricos (daqueles suuuper lentos) que eles mesmos disponibilizam.
As crianças brincaram até se acabar, viram um coelhinho recém-nascido ser alimentado na seringa, fizeram uma mini-trilha à pé de em torno100 mts na beira do rio e a Maria Clara ainda voltou pra casa com um dálmata pintado no rosto. Algumas árvores têm placas para saber de qual espécie são e ainda há flores e hortaliças de produção local para venda.
Programa pra família toda a 50 km de São Paulo!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Expedição Jalapão - depois do fim

A melhor parte do fim de férias inesquecíveis é o gosto das coisas boas que continuam com a gente quando o trânsito está parado e você fecha os olhos e só enxerga as dunas e o cerrado... Isso não tem preço! Então, minhas considerações especiais pós viagem:

- Um super obrigada para o Fábio e a Lu, e os queridos Artur e Bernardo (a melhor companhia que a Maria Clara poderia ter pra essa aventura), Wilson e Márcia, Rinaldo e Lilian, Mauro e Sandra (e o Fred!), Nice, Adauto e Andre, Bocão, Maicon, Zé e Fernanda pela companhia no pó da estrada, nas risadas e nas lembranças que ficarão para sempre!

- Das surpresas da volta, ainda tivemos as placas das rodovias estaduais do Tocantins, das quais a minha favorita foi: "CONFIE NA SINALIZAÇÃO"! Pode crer!!

- Conversamos com uma série de guias que nos deram dicas e orientações pelo caminho aos quais agradecemos. Para quem se interessa em conhecer a região e não quer ir "por conta", procure o pessoal da Venturas, Ricanato, 40 graus no Cerrado ou Korubo. Cada um deles tem propostas diferentes, mais ou menos radicais, portanto, dê uma olhada no site deles todos pra ver qual tem mais a ver com seu perfil.

- Pra você que vai na louca, como nós, não custa lembrar que o lugar é quente, muito quente, portanto roupas leves, muita água, repelente, chapéu e juízo sempre caem bem. Levem também toda sorte de medicamento que você imagina precisar ou não usar, pois as chances de encontrar médicos ou medicamentos pelo caminho são mínimas e inclusive emprestamos remédios para desavisados pelo caminho... Também prefira andar em comboio, pois um carro quebrado ali significa rezar aos céus por ajuda, que pode demorar uma dezena de horas pra chegar. Um guia 4 Rodas ainda é muito bem vindo, quando o GPS se perde pelo caminho...

- No mais, ficamos por agora com ótimos motivos pra voltar...



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Expedição Jalapão – dia 5


20/07/2012

Cachoeira da Velha, Ponte Alta e o que ficou pelo caminho

Acordamos com gosto de último dia.
As crianças foram cedo pra beira do rio perseguir os lambaris e piaus que se juntavam aos montes em volta das pernas na água cristalina, o que parece ser uma constante na região.
Desmontamos o último acampamento pra maioria do grupo que se repartiria no final do dia entre os que poderiam ficar mais um dia e os que teriam que voltar de qualquer maneira.
As crianças fizeram a gravação do último “programa do Jalapão” contando das aventuras, dos programas favoritos e mais mil histórias que inventaram ali na hora pra entreter eles mesmos além dos peixes...
Seguimos para a cachoeira da Velha, outros 60 km pra frente depois de voltar do camping para a estrada principal.
No entroncamento pra cachoeira encontramos a Rejane, da administração do parque, que havia conversado com o Wilson, parte do nosso grupo, antes da nossa chegada e que havia explicado sobre as particularidades e autorizações necessárias para transitar e passear ali, já que em alguns lugares só se pode entrar com guia cadastrado. Eles voltavam de uma “batida” à cachoeira da Velha onde um grupo havia acampado em um local proibido. O que se percebe é que apesar das dimensões do parque, tudo é bem organizado e fiscalizado, em comparação com o “padrão brasileiro” de fiscalização.
Depois de uma estrada capaz de deixar metade das peças do seu carro pra trás e a vista dos primeiros animais do cerrado, um grupo de emas correndo assustadas com a aproximação dos carros, chegamos à entrada da cachoeira. Ali encontramos o Guilherme, que nos explicou sobre o local, antiga propriedade do traficante Pablo Escobar, com 460 hectares, e tomada pelo governo estadual em 82. Depois de muitos anos sem uso, foi há pouco tempo estruturada uma sede para receber acampantes e orientar visitantes da Velha, onde não se pode mais acampar. Também nos contou que a cachoeira leva este nome porque diz a lenda que ali morou uma mulher sozinha, que ali envelheceu e morreu às margens da cachoeira. O corpo nunca foi achado, por isso não se sabe a veracidade da história, mas na região todos tomam como verdadeira.
Até a queda d’água há uma passarela de madeira sob a qual se vê aqui e ali brotar o capim dourado. A água é abundante e a vista é linda, realmente linda, com uma trilha que vai dali até a prainha do Rio Novo, cerca de 1 km de caminhada, mas a trilha estava fechada e os barrancos são desprotegidos então toda atenção com crianças é pouco, o que nos levou dali rapidinho para a prainha.
A prainha do Rio Novo é ponto e chegada do pessoal que pratica rafting no Rio Novo, tem uma extensa faixa de areia e muitos grupos que ali aportam pra fazer piquenique e nadar nas águas refrescantes pro dia escaldante. Nosso último mergulho de água doce...
Deste ponto 5 carros partiriam de volta pra casa, o nosso inclusive, e outros 3 ficariam mais um dia pra cobrir a parte que não conseguimos terminar de ver: o canion Sussuapara, a cachoeira do Lajeado, a Pedra Furada e Natividade, cidade histórica ao sul do Jalapão.
Seguimos para Ponte Alta, cidade de boa estrutura na entrada ou saída do Jalapão, dependendo de onde se está vindo. Abastecemos e tiramos uns 5 dos 10 kgs de pó que cobriam os carros, além do corpo e da alma, o que comprovamos mais tarde na toalha do hotel...
Decidimos por adiantar o máximo possível o caminho, indo para Porto Nacional e dormindo em Gurupi, já que teríamos dois dias até chegar efetivamente em casa. Nos despedimos da paisagem linda do Jalapão com o vento ainda quente batendo no rosto e a empolgação de uma criança que acabou de sair de uma montanha russa. O sol foi finalmente embora enquanto ainda cruzávamos a ponte sobre o rio Tocantins, nos deixando essa imagem maravilhosa pra coroar uma semana indescritível, apesar de todas as tentativas.
Mais cedo, à beira do Rio Novo, no acampamento, a Maria Clara havia nos agradecido pelas melhores férias da vida dela! Eu espero realmente que ela possa guardar cada momento lindo desta viagem na memória, tão novinha ainda. Mas caso ela não lembre, caso o tempo e a distância encubram os dias de sol, calor, brincadeiras, amizades no coração do Brasil, então este relato terá servido o seu propósito: eternizar este momento! 

Expedição Jalapão – dia 4


19/07/2012

Mateiros, Dunas e o Rio Novo

Um pouco mais ruidosa talvez, pois as 4 e tanto da manhã acordamos com dois fortes estampidos secos na lataria do carro. Se não era gente, era bicho. Se não era bicho, pior, era a estrutura da barraca. E se não era nenhum dos três, difícil seria saber o que era... Marido passou a mão na lanterna e junto com o Fábio, nosso vizinho de barraca, procuraram, procuraram e não encontraram nada... Sem opção melhor que dormir novamente, voltamos pra toca até o dia amanhecer dali uma hora pra começarmos a desmontar o acampamento.
Nos demoramos a terminar de guardar o circo enquanto a família novamente assistia ao nosso show particular. Agradecemos a hospitalidade e simpatia, demos o último mergulho no “Rio Cosquinha” e seguimos rumo a Mateiros, a principal cidade dentro do Jalapão.
Peixes do fervedouro, água transparente
As pousadas mais estruturadas ficam ali, e se você quer viajar sem dispensar ar condicionado, internet wireless, piscina e cama confortável, aqui é o seu lugar! Há três opções melhores que nos foram indicadas: a Panela de Ferro, a Santa Helena e a VeredaTropical.
Tudo isso quem contou foi D. Altair, dona da sorveteria Oásis, onde consumimos pelo menos 3 sorvetes cada um, desde o limão básico até frutas típicas do cerrado, como a cagaita, cujo nome é autoexplicativo se consumida em excesso... Ela disse que já sabia que viríamos do Lino, pois tinham adiantado pra ela que ali tinha um grupo grande parado. Com 2.500 habitantes, anonimato é uma palavra que não existe em Mateiros.
Mateiros
Almoçamos no restaurante da D. Rosa, na quadra seguinte da sorveteria, onde a própria cozinha no fundo da casa uma comidinha caprichada pra matar a fome do retirante mais faminto. Ali no município também fica a associação dos artesãos do capim dourado, onde todos os artesãos da região têm peças e é possível ver junto com o papel do preço o nome do artista que produziu a peça para que o repasse seja direcionado.
Esperamos a leseira do almoço a 40 graus diminuir novamente com altas doses de sorvete e seguimos rumo às Dunas do Jalapão, um dos cenários mais típicos e divulgados quando se fala da região. 
De Mateiros são 30 km, passando pela sede administrativa do parque, e entrando mais 5 km de areia fofa depois de deixar seu nome e contribuição na entrada para as Dunas. Carros não entram até o local das dunas, mas a caminhada é curta. Uns 300 mts, mais ou menos. Mas a vista é tão bonita que compensa cada pedacinho da trilha, inclusive da subida até o topo da duna. 
Só não esqueça o repelente, pois as mutucas não costumam dar trégua, mesmo lá em cima. Os guias dizem que o melhor horário é o entardecer, mas ainda tínhamos que achar pouso pra noite, então fomos um pouco mais cedo. Independente do horário, a vista é absolutamente espetacular e é provável que você se pegue tirando dezenas de fotos para tentar capturar a sensação que é estar ali em cima, vendo o cerrado contrastar com a areia amarela das dunas, em contraste com a areia branca do restante da paisagem, as serras, o céu azul de brigadeiro... É simplesmente de tirar o fôlego e foto nenhuma faz jus a estar ali pessoalmente, no calor da areia, com o vento no rosto.
Mas tudo que sobe tem que descer e lá fomos nós e os pequenos exploradores. A ideia original era chegar até a Cachoeira da Velha, mas a estrada neste trecho começa a ficar mais pesada, então escolhemos por prudência apenas cruzar o Rio Novo e dormir no camping do Seu Antônio, à beira do rio, em torno de 35 km pra frente das Dunas e mais 9 km à direita após a placa do camping.
Já tínhamos sido avisados pra negociar tudo com antecedência pra não levar um susto na saída. Pode ser que o preço varie de acordo com “a cara do freguês”, mas para nós o que foi passado foi R$ 120 para o chalé com banheiro, porém sem luz, R$ 10 o camping, mas R$ 5 a taxa de uso do banheiro e mais R$ 4 a mais pela hora do gerador depois das 9 da noite. A água do “chuveiro” é encanada do rio e a casinha não é das mais acolhedoras, mas dá pro gasto. O mesmo vale pros sanitários. O engraçado foi que a sensação geral do grupo foi mais de estranheza que de alívio, depois de passar os últimos 4 dias à beira do rio e dormindo sob as estrelas, ao encontrar a estrutura precária do camping.
Eu pessoalmente senti falta das estrelas encobertas pelas árvores, que juntas traziam mais um bando de muriçocas quase imperceptíveis no tamanho, mas com uma picada memorável! Jantamos estrogonofe regado a Johnny Walker Black, muito sofisticado, no bangalô negociado por mais R$ 30. 
Nesta noite os violões saíram da mala pela última vez pra encobrir a tristeza que começou a dar as caras com o final da viagem se aproximando no dia seguinte.








Expedição Jalapão – dia 3


18/07/2012

Mumbuca, Formiga e redondezas

Acordamos cedo, com a ideia de rumar após o café da manhã para a Cachoeira do Formiga (rio Formiga e não inseto, rs), uma queda d’água que acaba em uma piscina mais transparente que a sua garrafa de água mineral.
Porém decidimos primeiramente resolver a questão dos materiais para as comunidades e rumamos para Mumbuca, uma comunidade que por si só renderia um livro. Ali fomos instruídos de procurar D. Laurita, a líder comunitária, para falar sobre os materiais que trouxemos e deixar os recados da Leo. Porém como ela não estava, acabamos encontrando duas outras representantes, D. Santinha e Josi, que começaram a nos explicar um pouco sobre o lugar até D. Laurita chegar.
Procurando nos registros turísticos você verá que o Mumbuca é um antigo povoado quilombola, mas isto é um resumo muito pequeno da história que D. Santinha, D. Laurita e a Márcia, agente de saúde do povoado, me contaram e que tento reproduzir o mais fielmente possível: o primeiro negro fugido da Bahia a chegar por aquelas bandas foi o bisavô de D. Laurita, em 1805. Lá ele encontrou uma tribo indígena, onde conheceu a esposa, índia, com quem começaria a “povoar” o lugar. Negros, índios e brancos foram se misturando, e hoje, nas palavras de D. Laurita, há gente de todos os tons de cores e tipos de cabelo vivendo ali, totalizando os cerca de 160 habitantes  locais, todos parentes, todos próximos, incluindo até a última criança, o que pode ser visto na árvore genealógica na lojinha de artesanato.
O ouro de Mumbuca é o Capim Dourado e o capricho na execução das peças feitas com o material, e costurado com a seda do buriti, dispensa qualquer apelo comercial. A comunidade é carente, sim, há falta de recursos diversos como eles mesmos ressaltaram, mas a beleza está no coração, na simpatia das pessoas e na riqueza das peças de capim dourado. Difícil é não querer levar tudo, mas como eu já tinha arrecadado quase toda a produção da D. Diva no nosso acampamento e precisava fazer os registros históricos, me contive e deixei com que o resto da expedição, de quem eu havia privado a produção do dia anterior, pudesse aproveitar as compras.
Aproveitei a presença providencial de um orelhão para ligar para casa e ver se estava tudo bem com o filhote. Na fila acabei me sentando ao lado de D. Laurentina, uma das matriarcas do povoado, cuja liderança é majoritariamente feminina, completamente lúcida dentre seus 88 anos, poucos dentes na boca que eu houvesse constatado, e uma curiosidade de menina, perguntando o que tanto eu escrevia no caderninho que eu carregava comigo.
Só a deixei para ligar pra casa e saber o que eu já imaginava: filhote ótimo e um frio desanimador de voltar pra casa, frente aos 35° C médios da região.
A simpatia, solicitude, acolhimento das pessoas dali, nos servindo café e apresentando as crianças cantando na nossa saída, é algo difícil de superar e apesar de termos levado donativos para as crianças, quem acabou saindo de lá com uma sensação de gratidão imensa fomos nós mesmos.
O que constatei aos poucos, conforme os dias e as cidades passavam é que há sinal de celular em todas as cidades da região, porém muitas vezes só pega Vivo, o que representa para os assinantes de outras operadoras um roaming tão caro quanto a gasolina, modicamente vendida a R$ 3,50.  
Dali partimos para a Cachoeira do Formiga finalmente, para refrescar os miolos, porém além disso descobrimos que estávamos entrando na rota CVC do cerrado. Há muitas agências de turismo ecológico e muitos turistas, alguns nem tão turistas assim, como biólogos e engenheiros florestais que encontramos por ali. O lugar é realmente lindo e acabamos fazendo nosso piquenique de almoço ali, apesar de ser possível encomendar uma galinha caipira numa casa ali ao lado para saborear ao fim do banho delicioso de cachoeira.
Não podíamos fechar o passeio pela região sem visitar o Fervedouro principal, na mesma estrada da Mumbuca, onde se chega a outra piscina de água morna e água branca cercada por um bananal, uma cena realmente fascinante, onde as crianças brincaram tão ensandecidamente que julgávamos que eles não chegariam acordados à próxima pedrinha no caminho.

A galinha capira que fugira do prato do almoço apareceu na panela do jantar, já de volta aos Buritis, onde tive a oportunidade de conversar mais tempo com a filha do Sr. Lino, que me contou um pouco mais sobre o local. O fervedouro, agora apelidado pelas crianças de "rio Cosquinha" por conta das bolhas de ar que sobem da areia, foi nossa Jacuzzi por três dias, e a noite após esvaziar os pratos cheios pela fome, o sono veio cedo e foi tão ruidoso quanto as noites anteriores...

Expedição Jalapão – dia 2


17/07/2012

Amanhece no Jalapão


Impossível dormir até muito além das 6 e pouco acampando e apesar da secura e calor, a noite foi fria e cheia de orvalho, o que pegou muitos de nós de surpresa, a procura de cobertores escondidos desde o Paraná no meio da madrugada.
A princípio o café da manhã seria individual para cada família, mas como tudo num ambiente coletivo acabou virando refeição comunitária.
Alguns foram cuidar do banho não tomado na véspera. A Maria Clara, que estava esperando pelo banho de rio desde a chegada mal tomou café, me arrastando pro rio de onde víamos da margem peixes de vários tamanhos a olho nu. Descobrimos também a olho nu um cacho de marimbondos do tamanho de uma pessoa embaixo da ponte, o que explicou os visitantes inusitados da véspera.
Ali conhecemos a simpática Leonidia Coelho, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Tocantins, que havia nos pedido carona para São Felix na véspera e também havia dormido no posto fiscal. Graças às informações passadas por ela, acabamos mudando nosso roteiro e decidimos rumar diretamente para Mateiros, por uma série de motivos. Primeiro, montar e desmontar acampamento todo dia seria inviável com uma estrutura tão grande. Precisaríamos achar um lugar base para deixar a maior parte dos mantimentos e seguir um pouco mais leves entre um lugar e outro. Segundo, a maior parte das atrações do parque ficavam entre Mateiros e São Felix ou mais perto de Mateiros que qualquer outro lugar. Terceiro, que ali se concentrava a maior parte das comunidades carentes da região, a maior parte quilombolas e indígenas, para quem havíamos trazido materiais escolares e mantimentos.
Ficou acordado também que daríamos o recado às comunidades a respeito dos mantimentos encalhados no caminhão que passou a noite conosco no Rio do Sono. Isto porque as condições da estrada estavam bastante transitáveis perto do que se diz a respeito da época das chuvas...
E assim, de casa nas costas novamente e um plano razoavelmente estruturado, seguimos rumo a São Felix para abastecimento para rumar para Mateiros.
No caminho, outros dois caminhões atolados. O primeiro, de mudança, saiu do buraco com a ajuda de alguns membros da expedição. Para o segundo, com 15 toneladas de carga, pudemos apenas desejar boa sorte e seguir viagem, sabendo depois que o socorro havia sido providenciado.
A paisagem muitas vezes se assemelha à savana africana, porém com um toque brasileiro pincelado na paisagem pelos buritis e o capim dourado.
Como chegamos a São Felix em pleno horário de almoço, o posto de gasolina estava fechado (!). Mas não só o posto de gasolina, como a agência dos Correios, e mesmo alguns restaurantes da praia do Alecrim... Perguntaram se queríamos que chamassem o dono do posto, mas escolhemos fazer um piquenique rápido na praia do Fervedouro local  e matar o calor na água, tão cristalina e de temperatura agradável quanto o rio de onde acabávamos de sair. Para os que aportarem por lá, fica o dado curioso de ali terem filmado recentemente uma série de cenas do filme Xingu
Outro capítulo à parte, desta vez dos melhores, eram as crianças, principalmente os 2 mais velhos, Artur e Maria Clara. Da extinção dos dinossauros até o que aconteceria se eles se perdessem dos pais e tivessem que virar crianças de rua, rolou de tudo. Tudo digno de registro e conversado com uma propriedade de conhecimento que a idade com certeza nos tira!
Seguimos caminho para Mateiros novamente abastecidos, banhados, com o porém de ser extremamente complicado chegar ao destino no tempo planejado. Não pelas condições da estrada, que estavam muito melhores que a primeira parte do dia, mas porque há tantos rios, e tão lindos que é quase impossível o apelo de parar e pular ali um pouco para se refrescar! Fizemos isso umas três vezes antes da nossa chegada e valeu cada grãozinho de areia branca no meio dos dedos.
As crianças a estas alturas já bradavam adjetivos como “demais” e “show de bola” a cada parada, realmente valendo nosso dia.
A princípio a ideia era ficar baseado em um sítio de um senhor de Palmas que havia conversado conosco no começo da viagem, porém o terreno íngreme, o rio cercado de barrancos com uma ponte pênsil sobre ele (mais para um balanço que uma ponte na opinião de alguns) tornou inviável nossa estada por lá, pois os mantimentos e carros teriam que ficar de um lado e o acampamento de outro.
Dali tínhamos algumas opções de camping ou um tiro no escuro, que acabou sendo a melhor opção. Seguimos rumo a Mateiros novamente e entramos rumo ao Fervedouro dos Buritis para ver a situação do lugar e saber se era possível acampar por ali.
A propriedade, que a princípio também achamos ser parte das comunidades quilombolas da região, na verdade era uma propriedade particular e assim acertamos com o Sr. Lino nossa estada pelos próximos dois dias. Ali teríamos não só um terreno amplo e uma estrutura de aproximadamente 50m2 para montar a cozinha e desovar os mantimentos do carro, mas também “nosso próprio” fervedouro à disposição 24 hrs.
De cara, o tom brilhante do capim dourado chamou a atenção e acabamos comprando praticamente metade do estoque de artesanato que a família tinha disponível.
A curiosidade foi recíproca e a família e seus visitantes sentaram para assistir nosso grupo armar um circo completamente desproporcional à realidade simples, sem luz, água encanada, esgoto ou qualquer estrutura além da casa mal terminada de adobe e chão de areia e duas outras tenda abertas, as três cobertas de folhas de buriti.
Em pouco tempo dona Diva havia nos acolhido em sua propriedade e assuntando com a família descobrimos que ali todos viviam do artesanato do capim dourado, como praticamente toda a região. Também descobrimos que há uma fiscalização extensa por parte da Naturatins (o Instituto Natureza do Tocantins), que desde 89 promove o estudo, a pesquisa e a experimentação no campo da proteção e controle ambiental e da utilização racional dos recursos ambientais, evitando que haja contrabando e mesmo escassez de matéria prima disponível para o trabalho dos artesãos.
Pudemos perceber que apesar de simples, as famílias são bem informadas e treinadas pelos agentes comunitários para que o capim dourado possa gerar mais renda para as comunidades da região. Depois fiquei sabendo com um guia que eu conheci que mesmo a Naturatins é bastante carente de recursos, porém os funcionários são realmente empenhados e acreditam no trabalho de preservação da região, por isso acabam compensando as dificuldades com a paixão pelo trabalho feito.
Descobrimos também que apesar de não ter luz, banheiro ou água encanada todos tinham celular, o que não deixou de parecer um tanto irônico... Em vários momentos e conversas acabei questionando o que era falta de recurso e o que era cultural dentre as muitas constatações que tivemos.
Fizemos um risoto de tudo e mais um pouco, oferecendo à família que assistia curiosa ao nosso excesso de acessórios e rumamos para o fervedouro particular da família, aberto ao público como todos os outros por R$ 5,00, para tomar o último banho do dia.
Indescritível talvez fosse a palavra mais próxima para descrever o lugar. Imagine uma banheira gigante de areia branca, muito branca e água a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e transparente, com uns tantos peixinhos nadando pra lá e pra cá e uma fonte constante de bolhas que sobem da areia e que além de não deixar que a pessoa afunde, ainda dá a sensação de que o chão está explodindo em pequenas bolinhas, legal pra caramba depois que você acostuma com o borbulho todo. Difícil mesmo é sair de lá, com água quentinha a uns 30 graus e um céu ridiculamente estrelado acima.
Fervedouro de dia
Dormi em 5 segundos grata pelo dia, pela vida, pela oportunidade!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Expedição Jalapão - dia 1


16/07/2012
Rumo ao deserto
O Tocantins é um estado bastante jovem, apesar das lutas pela emancipação do estado de Goiás datarem do século XIX. O motivo era simples: com a capital ao sul e as diferenças culturais, o norte longínquo acabava esquecido e mal assistido. Com a emancipação vinda com a Constituição de 88 e a fundação de Palmas para ser a capital do estado, bem ao centro e proporcionalmente distante da maior parte das regiões do estado, o Tocantins floresceu como o girassol que é seu símbolo.
Um parênteses especial para o povo de Palmas, simpático, solícito, extremamente acolhedor. É verdade que há muitos paranaenses entre os primeiros imigrantes da região (hehe), mas saímos para viajar com uma série de dicas novas, graças à abordagem voluntária de muitas pessoas que viam os carros adesivados e a turma uniformizada. Com exceção do sujeito que perguntou para um dos casais se eles iam para o Japão os demais acrescentaram e muito ao restante do trajeto!
Comprados os perecíveis e abastecidos de combustível, estávamos prontos para partir.
Uma particularidade que notamos desde Palmas, foi o costume também nesta região de comer carne de sol. Na falta de energia pra manter geladeiras e produtos refrigerados, é o que tem pra hoje. A carne fica pendurada ao sol dentro de uma estrutura de madeira cercada de tela pra evitar mosquitos, mas só eles, pois a poeira é inevitável na região seja para as carnes, para os carros ou mesmo para nós escondidos dentro deles. Mais pra frente encontramos métodos mais rústicos ainda de secagem, que consiste na dieta da maior parte das famílias da região. Não sabemos dizer o motivo, mas em nenhuma das comunidades ou cidades onde estivemos vimos criação de porcos ou mesmo a opção de pratos suínos no cardápio.
Já era passado das 13 quando deixamos Palmas rumo ao Jalapão. A princípio iríamos até Aparecida, 70 km a frente seguindo para Novo Acordo, mais 48 km, mas decidimos rumar para São Felix, outros 150 km a frente, a maior parte dele de terra.
O caminho é tão lindo que por um tempo é possível esquecer que exista qualquer coisa além daquilo. A sensação é realmente de maravilha com as paisagens indescritíveis que vamos encontrando no trajeto.
Infelizmente o final do dia chegou antes que chegássemos ao destino e por uma questão de segurança decidimos parar e acampar a beira do Rio do Sono, no posto de fiscalização animal e vegetal, 50 km antes do destino.
E a noite não nos brindou com nada menos que um tapete forrado de estrelas!!
No acampamento a primeira providência foi instalar o gerador, uma regalia sem a qual poderíamos ter passado, mas que facilita muito fazer comida pra 20 pessoas, pois o sol já fugia rápido e as instalações ainda precisavam ser montadas.
Barracas de chão, de teto, uma cozinha com fogão, chapa de disco de arado pra dourar a carne, e até um semi-teto pra nos cobrir, 3 lâmpadas na área central e o resto à base de lanternas várias.
Para as crianças, mas em especial pra Maria Clara que se aventurava pela primeira vez conosco, levei o banheiro particular dela: um balde comum com redutor de assento infantil, com um pouco de água, e tcharãããã: um ultramoderno e prático banheiro Tabajara! Ela gostou tanto do badulaque que queria de todo jeito chamar as outras crianças pra ver a novidade sendo usada!!!
A grata surpresa foi descobrir que depois de um dia de calor escaldante, o rio de águas mornas ao final do acampamento era tão transparente que se via os peixes mesmo à noite. Algumas pessoas adiantaram o banho e os demais adiantavam a preparação do jantar – churrasco com salada de couve, tomate e cenoura (ou qualquer outra coisa que já estivesse estragando na bagagem) e farofa vegetariana.
Comemos, conversamos, enquanto as crianças brincavam com os baldinhos de areia (afinal, para todos eles, se você vai para o deserto, você DEVE levar um baldinho de areia, como não?!!). Tocamos viola e dormimos logo em seguida ao barulho dos... roncos!!! Muitos, vários, para você que esperava ler algo como “os grilinhos e cigarras”... Na verdade, foram tão em uníssono que chegamos à conclusão que nenhum animal mais engraçadinho se disporia a invadir nosso acampamento com tanto barulho assim madrugada afora...
Maria Clara foi dormir agradecendo ao anjinho da guarda pela noite na barraca e pelo tio Gordinho ter sido o único infelizmente picado por um marimbondo e mais ninguém!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Expedição Jalapão - amanhece em Palmas

Café da manhã tomado, crianças exaustas depois da piscina, homens abastecendo os veículos de mantimentos vários.
Hoje a brincadeira começa de verdade e as postagens ganham um intervalo, pois a conexão será inexistente nos próximos dias.
Uma conclusão que nós chegamos até o momento é que por mais planejada que a viagem tenha sido, e as expectativas tenham sido grandes, ainda assim nos surpreendemos de maneira positiva até o momento.
E isso porque o melhor nem começou...
Até a volta!

Expedição Jalapão: etapa Goiânia – Palmas


Impressões e depressões
Eu devia ter escolhido melhor minhas palavras porque algo em torno de 1:30 e 4:30 da manhã houve uma batalha incessante entre meu estômago e meu jantar, da qual o estômago foi vencedor, deixando meu jantar em Goiânia.
Quando amanheceu, 6:30 da manhã, já estávamos na rodovia fazia tempo. 

A BR 053, Belém-Brasília, é um capítulo a parte. Um capítulo ruim, principalmente na parte de Goiás. Estrada de pista simples, com trânsito pesado de caminhões, pouca sinalização e nenhuma fiscalização, facilitando a embriaguez e direção, a imprudência nas ultrapassagens e a falta de cortesia dos motoristas de todas as categorias, que não diminuem a velocidade nem dão passagem a carros em ultrapassagem. Uma tristeza que acabou resultando no testemunho de um acidente grave com vítimas, dentre as quais uma menina pequena estendida na beira da estrada, o que nos chocou e abalou pelo resto do caminho, ainda que soubéssemos depois que ela havia sobrevivido. A notificação à Polícia feita pelo nosso grupo resultou na chegada do socorro, ainda que bem mais de 30 minutos do chamado. O problema é que as longas distâncias aliadas às condições precárias só reforça a ideia que o modelo rodoviário que temos é ineficaz e deve ser repensado, seja através da privatização ou maior investimento, já que o transporte rodoviário é alardeado como o pilar motor da economia do país.

Digressões à parte, cruzamos a fronteira entre Goiás e Tocantins apenas às 13:30, 8 horas e ½ da nossa saída, e com muito chão pela frente. Conforme a fronteira se aproxima (a qual se pode notar apenas por um posto de fiscalização pequeno e uma placa muito discreta, além do areião típico destas paragens) as opções de abastecimento pessoal e combustível vão rareando, por isso a contemplação do posto do grupo Décio depois de quase 700 km de estrada é quase como encontrar um oásis no deserto. Um deserto quente pra dedéu!

Talvez por um lapso educacional ou falta de atenção pura e simples, desde a divisão de Goiás e Tocantins nunca havia me atentado para o fato do Tocantins pertencer à região norte do país, e não centro-oeste. Assim, em 3 dias, 2 para o resto do grupo, havíamos percorrido 4 das 5 regiões brasileiras e estávamos agora com a fronteira com Mato Grosso e Pará ao leste e a fronteira com Maranhão, Piauí e Bahia ao Leste. Em outros lugares do mundo talvez já estivéssemos a três países de distância de casa...
A paisagem linda e as besteiradas pelo rádio amador amenizaram a etapa final, aquela que faz a viagem parecer nunca acabar.
Chegar a Palmas foi mais que um alívio depois de tanto chão, e apesar do ar condicionado do carro ter nos deixado na mão e se transformado num ventiladorzinho de brinquedo de criança, estávamos com o corpo cansado e a cabeça leve.
Palmas é uma cidade organizada e planejada, cujas ruas mais parecem referências de um jogo de batalha naval (é verdade, eu nunca estive em Brasília...).
A Pousada dos Girassóis foi nosso último pouso “civilizado” e o pirarucu na beira da lagoa a última refeição de boteco antes que eu começasse a “pescar” de exaustão na Praia da Graciosa, à beira do Lago de Palmas. Lugar lindo, calor de 32 graus lá pelas tantas da noite, o que facilitava a tal pescaria...
As crianças, que passaram o dia presas no carro entre uma parada e outra, corriam de um lado pro outro menos preocupadas com a refeição que com a diversão, garantida pelo espaço amplo e um pula-pula providencial.
É verão no Tocantins e nós viemos dispostos a aproveitar cada raio de sol!!

Expedição Jalapão: etapa Franca – Goiânia


Rumo ao sol
Eram 11 da manhã quando finalmente estávamos prontos e carregados (de sapatos, inclusive) pro próximo trecho rumo ao norte.

Nos idos dos anos 80, minha tia morava em Goiânia e algumas férias de julho foram passadas por lá, com o encantamento de levar o biquíni na mala, coisa impensável no sul do país para esta época do ano. A feira hippie, o Jaó, o zoológico e é claro, o calor, eram excelentes lembranças de infância!
No carro, uma prancheta, papéis, canetinhas, quebra-cabeças e um estoque razoável de filmes pareciam estar dando conta do recado de deixar uma menina de 4 anos, quase 5, presa por tantas horas até o momento.
Cruzamos Minas pelo oeste e em Uberlândia a Maria Clara foi batizada com a primeira comida apimentada da vida dela, enquanto gritava “minha gargantaaaaa, minha gargantaaa!!!”. Quem coloca pimenta (muita pimenta!) no feijão de self-service, caramba?? Depois de apagar o fogo com altas doses de coca-cola, ela acabou por ganhar de cortesia um macarrão pra substituir o arroz-feijão dos infernos e um sorvete de consolação.
Logo em seguida cruzamos o rio Paranaíba em Itumbiara para entrar em Goiás, agora a um estado de distância do nosso destino, com a mocinha apagada no banco de trás enquanto no rádio Grace Jones cantarolava uma versão bonitinha e modernizada de La vie en Rose. É, Grace... hoje ela é rosa, com tons de céu azul e muito verde!
Entramos em Goiânia com o pôr-do-sol e agraciados pelo voo das araras azuis e amarelas que cruzavam a estrada. A Maria Clara, que dormia desde Uberlândia, não viu, senão teria alardeado “Rio!!!”. Tanto melhor para Goiânia, que não mereceria esta desfeita...
Ali encontramos os outros sete carros que fariam nossa até então “expedicinha” virar uma verdadeira expedição. Agora seríamos 8 carros, 16 adultos, 3 crianças e um cachorro! Isso mesmo, um cachorro!

Cansados, porém felizes com o calor, comemos próximo ao hotel e caímos cedo na cama, pois o dia seguinte reservaria quase 1.000 km de estrada pela frente, a começar às 5 da manhã. Peguei no sono conversando ainda com os exageros do jantar. 
Ah, se eu soubesse...